Tudo o que você ainda não aprendeu sobre o Sistema Eleitoral dos Estados Unidos

Por Giovanna Licursi e Maria de Lara

As eleições dos Estados Unidos com seu sistema eleitoral diferenciado foram um assunto relevante nas últimas semanas. Será que os brasileiros conseguem reconhecer as diferenças entre as eleições brasileiras e eleições norte americanas? Conversamos com alguns jovens estudantes para descobrir qual seu nível de conhecimento sobre o assunto e a possível influência da cobertura jornalística brasileira sobre isso, pois, muitos dos quais assistiram pela primeira vez com maior consciência política a cobertura das eleições presidenciais norte americanas. 

A partir da pergunta: “Você sabe como as eleições nos EUA funcionam? É algo que aprendeu recentemente, com a cobertura jornalística sobre o assunto?”, dentre os 10 jovens que questionamos, 8 aprenderam melhor esse ano com a cobertura jornalística sobre o assunto enquanto 2 ainda não entendem como funciona o sistema eleitoral norte americano. 

Basicamente, este sistema possui algumas similaridades com o do Brasil: de quatro em quatro anos, os eleitores votam, de forma secreta, para escolher o presidente do país. Mas, quando se estuda a fundo esse processo, é possível perceber que há mais diferenças no modo como as eleições acontecem do que similaridades e esse é um dos motivos pelos quais muitas pessoas, principalmente os jovens, ainda não conseguem entender de fato o tema. 

Para sanar as dúvidas que ocasionalmente ocorrem durante as eleições, todos os anos a mídia brasileira prepara uma cobertura jornalística sobre o assunto. Porém, em alguns casos, esse método pode não surtir efeito. Neste caso, separamos as principais diferenças entre os dois sistemas eleitorais. 

Os Estados Unidos possuem dois principais partidos políticos: Partido Democrata e Partido Republicano, respectivamente representados pelo símbolo do jumento e elefante. Nas eleições presidenciais norte americanas existem duas características cruciais sobre o voto: ele pode ser enviado através dos correios, isentando a obrigação de comparecer ao local de votação, principalmente este ano com a pandemia do Coronavírus e também é indireto. Mas, como funciona isso? 

Antes de tudo, é preciso ter em mente que esse processo varia entre os estados pois a legislação entre eles é diferente. Para o voto à distância, na maioria dos estados, o eleitor precisa pedir a cédula de votação através de formulário online, telefone ou presencialmente. Em alguns desses estados, também é necessário que haja uma justificativa para realizar o pedido e a data limite da solicitação varia de estado para estado. Depois, a célula é enviada para o eleitor registrado e para preencher a célula pode ser que precise da presença de testemunhas ou o reconhecer a assinatura em cartório. Por fim, a cédula é enviada por correio ao órgão responsável pelas eleições para que seja incluída na hora da contagem de votos. 

O voto também é indireto, ou seja, os cidadãos também votam no candidato que desejam eleger como presidente, mas estão na verdade votando para que representantes de seu estado nas eleições votem por eles. Esses representantes são os delegados. Cada estado do país possui um número de delegados proporcional à sua população. Em todo os Estados Unidos há um total de 538 delegados, e para que um presidente seja eleito, precisa receber votos de pelo menos 270 desses. Esse sistema é chamado de colégio eleitoral. 

Um eleitor vota nas primárias em Las Cruces, Novo México, Junho 2020. Paul Ratje/ Reuters 

Além disso, diferentemente do Brasil, lá o voto é facultativo. Como os votos não são diretos, e por causa desse sistema, é possível que um candidato seja eleito mesmo não tendo vencido o voto popular, ou seja, mesmo tendo recebido menos votos. Isso ocorreu duas vezes nos últimos vinte anos, nas eleições de 2000 (George W. Bush) e 2016 (Donald Trump), e cinco vezes na história dos Estados Unidos. 

O colégio eleitoral se baseia no congresso, onde os representantes também são proporcionais à população e cada estado possui dois senadores. Portanto em um estado há um delegado para cada distrito eleitoral e mais um para cada senador. Na Califórnia, por exemplo, são 53 distritos eleitorais, desta maneira, o estado possui 55 delegados. Outra peculiaridade, é que em quase todos os estados, se a maioria dos votos vai para um candidato, mesmo que por uma diferença pequena, ele ganha todos os delegados. É o chamado “o vencedor leva tudo” ou “winner-take-all”. Segundo uma matéria em vídeo do portal de notícias Vox, esse sistema possibilita que existam diferentes pesos para votos individuais em diferentes estados. 

A questão é compreendida mais facilmente com a citação do caso do Texas, que tem uma população muito grande, com 36 representantes no congresso, e Vermont, que com uma população muito pequena, tem 1. Texas tem 38 delegados e Vermont 3. Essa combinação torna o número de pessoas representadas por cada delegado muito diferente entre estados. Um delegado no Texas representa três vezes mais pessoas do que um delegado em Vermont. Isso torna o voto individual de cada pessoa em Vermont muito mais influente. Esse sistema eleitoral gera discrepâncias como essa em todo o país. 

Outro ponto importante são os estados pendulares, ou “swing states”. No país, muitos estados votam tradicionalmente em um determinado partido (republicano ou democrata), e em todas as eleições seu voto é previsível. Entretanto, os estados pendulares são conhecidos por não elegerem sempre candidatos de um mesmo partido, podendo variar o voto de eleição para eleição. Entre eles estão Ohio, Pensilvânia, e Carolina do Norte. Muitas vezes eles tem os votos decisivos, e por isso, na corrida eleitoral, recebem muito mais atenção e investimento em campanhas políticas. 

Por ser um país de influência mundial, é importante se atentar a essas diferenças para entender melhor como acontecem os desdobramentos políticos internacionais. Agora que você já sabe as principais características do sistema eleitoral estadunidense, preparamos um quiz super divertido para testar o conhecimento adquirido. Vamos nessa? 

Fontes externas usadas na apuração: 

Eleições nos EUA: entenda como funciona a escolha do presidente pelo colégio eleitoral. https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2020/noticia/2020/08/28/eleicoes-nos-eu a-entenda-como-funciona-a-escolha-do-presidente-pelo-colegio-eleitoral.ghtml http://base.gamux.com.br/events/2012.11.02-SBGames12/proceedings/papers/gamesf orchange/g4c-06.pdf 

The Electoral College, Explained 

https://www.youtube.com/watch?v=ajavsMbCapY&ab_channel=Vox