Os países ocidentais devem se responsabilizar pela atual crise de refugiados

Por Fernando Itaborahy

    A crise de refugiados do século 21 é maior desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1948. Até o ano de 2019, em todo o mundo, 79,5 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar de suas regiões de origem, devido a guerras, conflitos e perseguições. Este número representa cerca de 1% da população mundial. A maioria é proveniente de países e regiões do Oriente Médio e da África, sendo mais da metade, 53%, saídos da Síria, do Afeganistão e da Somália.

    Essa crise migratória encontra suas raízes em um sistema de dominação eurocêntrico, que considera os valores ocidentais como universais. Laços de dependência entre os países do chamado Terceiro Mundo com as potências ocidentais, estabelecidos nos períodos do imperialismo, colonialismo e neocolonialismo, onde os dominados sempre saíam em desvantagem, levaram o mundo a atual conjuntura.

    Ao se deslocar de seu lugar de origem, os refugiados procuram o local mais próximo e, por sua posição geográfica, a Europa é um dos principais destinos dessas pessoas. A questão se tornou de suma importância para a mídia internacional em 2015 e deixou todo o continente em alerta. Líderes dos países do bloco usavam da retórica de que era insustentável para Europa receber um número alto de pessoas, tanto na questão econômica, quanto por motivos políticos.       No entanto, este argumento cai por terra com muita facilidade. Vemos o exemplo do Reino Unido que, em 2015, recebeu cerca de 8 mil refugiados sírios. Por outro lado, a Jordânia, vizinha da Síria, abriga 655 mil sírios, apesar de ter uma população 10 vezes menor que a britânica e um Produto Interno Bruto que representa o equivalente a 1,2% do PIB bretão.

    Os países ocidentais precisam assumir a sua responsabilidade na presente crise migratória e trabalhar para resolver essas questões. E não endurecer ainda mais suas políticas migratórias. Usam e abusam da retórica anti-imigração, com argumentos sobre a segurança em seus territórios, enquanto pregam serem defensores da liberdade de expressão, da igualdade, dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana. Porém, o que vemos na prática, são atitudes para causar instabilidade em certos países, devido a interesses geopolíticos.

    As potências europeias e os Estados Unidos sempre tomaram a liberdade de fazer o que quiseram no mundo. Invadiram territórios, escravizaram e exploraram as populações nativas e impuseram suas culturas a força nas regiões colonizadas. E agora argumentam que os imigrantes são um risco a liberdade de seu povo, a segurança de sua sociedade e a sua cultura. Negam pela segunda vez o direito à segurança e à liberdade dos cidadãos dos países que invadiram e pilharam as riquezas, ao fecharem suas fronteiras a eles. Enquanto o Ocidente tratar os refugiados como inimigos a serem derrotados e a contribuir para a continuidade dos conflitos nos países de origem destes imigrantes, essa crise vai persistir por muito mais tempo.

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