Membra do coletivo feminista 8M/JF, Lucimara Reis, avalia recorde de candidatas femininas à prefeitura de JF


Por Clara Xisto e Ludimila Coelho

A campanha para a prefeitura de Juiz de Fora em 2020 apresenta um diferencial, tendo em vista as demais eleições na cidade: pela primeira vez na história da cidade, concorrem ao cargo 5 mulheres, entre os 11 candidatos, sendo elas, em ordem alfabética: Ione Barbosa, do Partido Republicanos; Lorene Figueiredo, do PSOL; Margarida Salomão, do PT; Sheila Oliveira, do PSL e Victória Mello, do PSTU. Para falar sobre este marco histórico, convidamos Lucimara Reis, Licenciada em história pela UFJF- mestranda do PPFSS/UFJF. Mãe, feminista, antirracista, articuladora do Fórum 8M/JF. 

1) Juiz de Fora bateu recorde, em 2020, no número de mulheres concorrendo à prefeitura da cidade, é a primeira vez que a cidade tem 5 candidatas ao cargo. Qual você acredita ser a motivação do crescimento deste número, tendo em vista que nas eleições de 2016 Juiz de Fora tinha apenas 3 candidatas na concorrência? 

Resposta: Não há como negar que o debate público sobre a igualdade de gênero ocorre na sociedade, quem não se alinha a esta percepção não está em condições de disputar cargos na política com o mínimo de honestidade e compreensão do mundo que os cerca. Isso serve tanto para partidos de esquerda e direita. O aumento de candidaturas de mulheres, competitivas ou não, é um fenômeno mundial, fruto da busca de protagonismo das mulheres, e do entendimento que essa parcela da população não pode permanecer alijada do círculo decisões. Desta percepção, não me surpreende que tenhamos um número recorde de mulheres na disputa do cargo político majoritário na cidade. Vale, contudo, observar o seguinte: nas últimas eleições, tivemos sete candidatxs na disputa, sendo três mulheres. Se olharmos o quadro atual, onze candidatxs, sendo cinco mulheres, observamos que a proporção de certa forma permanece, ocorreu um aumento do número de candidaturas, em parte, devido a lei de coligações na proporcional. O que muda o cenário, creio, é que na linha de frente da disputa, segundo última pesquisa IBOPE, temos três mulheres entre as quatro candidaturas mais votadas. 

2) Considerando que nunca tivemos uma prefeita, você acredita que essa presença de mais mulheres candidatas à prefeitura significa uma possível ressignificação da representatividade feminina na política na cidade? 

R: Acredito que o mundo vive um momento de quebra de paradigmas, isso resulta em reação violenta do pensamento da permanência, contra o movimento, creio inexorável, de marcha da história em que as sujeitas políticas se colocam em busca de igualdade. Deixo aqui como provocação, que busquemos observar o que indicam as pesquisas sobre quais são as pessoas mais insultadas nas redes sociais, durante o pleito no país.... Voltando ao movimento da história, podemos avaliar isso de duas formas: como avanço civilizatório para todas e todos ou como uma mexida no tabuleiro em que a organização estrutural de exploração da sociedade não se altera. Juiz de Fora é emblemática, se observamos as candidaturas auto nominadas do campo da esquerda e direita, protagonizadas por mulheres, entre as três mais competitivas, segundo o IBOPE. 
3)Como você avalia a postura das candidatas em suas campanhas eleitorais? Você acredita que elas incentivam uma maior representatividade feminina? 

R: Sim, sem dúvidas candidaturas femininas impulsionam a busca por representatividade de mulheres em diversas áreas. O que me parece importante, é o quanto essas candidaturas influem de forma positiva para a transformação social, que para mim significa o combate ao sistema capitalista. Neste ponto, podemos distinguir o que me parece o “sequestro” da pauta feminista em prol da manutenção da estrutura de exploração da sociedade, em que identifico as candidaturas das delegadas Sheila e Ione, e um campo que busca a transformação social em que aponto as candidaturas de Margarida, Lorene e Vic. Não há como existir real equidade nas relações de gênero e racial se não ocorre uma profunda transformação nas relações de exploração. Nova provocação, onde se encontra o debate e as candidaturas de mulheres negras na majoritária? 

4)Você julga possível a eleição de uma mulher à prefeitura da cidade, em 2020, considerando seu histórico de eleições?

R: Juiz de Fora é uma cidade curiosa, para dizer o mínimo. Tem posturas diferentes no plano municipal e nacional, basta observar o histórico eleitoral, quanto ao posicionamento geral de voto na esquerda ou direita. O que percebo hoje é uma grande potencialidade para eleição de uma mulher à frente da prefeitura. Mesmo considerando Juiz de Fora uma cidade conservadora, creio que a confiança na capacidade de gestão eficiente das mulheres cresce e indica que essa barreira pode ser transposta. Luto para que a quebra dessa corrente, não se dê em apenas um elo e que a eleição de uma mulher prefeita em JF faça história no sentido de contribuir para a transformação das estruturas de opressão e exploração, na minha opinião isto está intimamente ligado ao campo político que essa mulher se encontre. Estou otimista, mas não é otimismo que vence eleição.

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